domingo, 27 de abril de 2008

Eu e o parapente...

Nunca tive grande aptidão para o desporto mas sempre gostei de o praticar. Tive treinos regulares de judo, natação, basquetebol e ténis mas nunca gostei de competições. Finalmente, após várias tentativas que duraram quase 30 anos, encontrei um desporto que me satisfaz plenamente. Não vou pormenorizar os motivos desta minha satisfação porque não é esse o objectivo deste texto. Apenas destaco o evidente: a sensação de sustentação no momento de tirar os pés do chão, o vento na cara, o silêncio do céu, a vista deslumbrante e o prazer da pilotagem.
Outra faceta interessante deste desporto é a vertente psicológica. Não é por acaso que existe um número elevado de desistência de alunos, que acabam por não terminar o curso de piloto. De facto é necessário ser-se muito persistente e paciente para o conseguir finalizar sobretudo devido à dependência das condições meteorológicas, à necessidade de compra do equipamento que não é barato e à disponibilidade dos instrutores. Se a estes factores adicionarmos a necessidade de conciliar o tempo disponível para a prática do parapente com o trabalho e com a família, tudo se torna ainda mais complicado. Mal ou bem, com dois bebés para cuidar, com maior ou menor discussão com a mulher, lá consegui obter a minha licença de piloto e mais importante, a experiência que me permite, em condições ainda muito específicas, voar. Se não tivesse tido o apoio do meu cunhado e de outros amigos que se iniciaram posteriormente neste desporto, também teria desistido. Apesar de já ter ultrapassado a fase que eu considero mais critica, onde as frustrações por não se conseguir voar são uma constante, ainda não consegui encontrar um verdadeiro equilíbrio. Passo a explicar: estou constantemente a mentalizar-me que devido às minhas limitações de tempo tenho que olhar exclusivamente para o meu nível de progressão e que não o devo comparar com o dos meus colegas com maior disponibilidade. Surpresa das surpresas, sou bem mais competitivo, egoísta e invejoso do que julgava e portanto este processo de mentalização tem sido complicado. Dou por mim a verificar alguns dos colegas que se iniciaram na mesma altura que eu e até outros que se iniciaram posteriormente, a alcançarem um nível de pilotagem bem mais elevado do que o meu, o que me faz duvidar das minhas capacidades. Dou por mim a verificar voos espectaculares que o pessoal partilha através da internet e a sentir inveja por não poder ter estado presente em vez de ficar contente por estas pessoas. Os dias mais difíceis, onde este sentimento negativo é mais forte, são aqueles em que por qualquer motivo de última hora mas de maior importância, me vejo impedido de deslocar a uma qualquer descolagem conforme tinha antecipadamente previsto. Por vezes fico mesmo de mau humor com prejuízo para o ambiente familiar. Reflicto, apercebo-me do meu erro de pensamento e tento interiorizá-lo para não voltar a repeti-lo. Pode ser que este texto me ajude a melhorar a minha atitude mental perante a impossibilidade de voar nos dias meteorologicamente favoráveis. Pelo menos será esse o objectivo deste texto, exorcizar o demo que está dentro de mim nos dias como o de hoje (se eu pudesse ter ido conforme tinha previsto, era voar e voar!!!) e focalizar-me nos meus objectivos pessoais para o parapente, já estabelecidos, que têm em consideração as minhas limitações e prevêem uma linha de progressão menos inclinada. Quando conseguir alcançar esse nível de maturidade a minha relação com o parapente vai ficar bem mais saudável...

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